Há momentos em que existe a necessidade de silenciar, mas por que isso é tão difícil nos dias de hoje?
Pessoas dormem com música, acordam com rádio e ligam a televisão assim que encontram o controle remoto. O celular ficou ligado a noite inteira. Enquanto preparam o café, conversam com alguém e o tomam com o rádio ligado. Vão ao trabalho com fones de ouvido. Ouvem e falam constantemente durante o dia. Voltam para casa, ligam todos os aparelhos antes mesmo de tirarem os sapatos.
Não se deixam silenciar.
Mas por quê? Será um vício ou o silêncio é um tormento tão grande que torna-se insuportável escutar os próprios pensamentos?
Estamos evitando o encontro conosco. Não queremos a nossa voz, queremos a do outro, que dita regras, que vende conselhos, que canta o que deveríamos falar – ou não! – que define nossas vidas dentro de suas teorias.
Qual é a sua teoria? Qual o seu plano de ação? Já parou para escutar? Já pensou sobre isso? Onde você quer chegar? De que forma? Do que está fugindo?
Deixe o silêncio trazer as respostas. Não tenha medo. Permita escutar a si, ao seu coração, aquilo que o faz feliz, o que realiza. Reconheça e corrija o que te desvia. Feito isso, trace metas, crie algo, tenha coragem e seja um diferencial no mundo.
Conte sua história, faça sua música, ouça escutando de verdade, dê sua opinião e siga em frente, mas dê sempre um tempo para o silêncio. É a partir dele que tudo se realiza
TV LIGADA DURANTE A VISITA
Não é mesmo um comportamento estranho? Você visita alguém e assim que se acomoda para conversar a TV é ligada. Ou você chega e a TV já está ligada. Durante toda a sua visita a TV permanece ligada, ininterruptamente emitindo som e imagem a ninguém em particular. De vez em quando, no intervalo entre um assunto e outro, vocês assistem a TV. Tecem comentários triviais sobre o programa e voltam a conversar. Você vai embora e a TV continua ligada.
No caminho de volta você contempla, através de inúmeras cortinas, de casas e apartamentos, a luz difusa e bruxuleante, característica de uma TV ligada. E então imagina que nesses lares a mesma situação que acabou de viver pode estar se repetindo: uma visita chega e a TV é ligada. Ou a TV já está ligada e permanece assim durante toda a visita. Você entra em sua casa e uma de duas situações pode ocorrer:
1. Caso resida só a sua TV estará desligada
2. Caso resida com uma ou mais pessoas, é grande a probabilidade de a TV estar ligada
Em ambas situações, você observa a TV e reflete sobre a necessidade psicológica do ser humano de calar o silêncio com qualquer barulho disponível e a óbvia praticidade que o aparelho oferece para tal função. "É isso", você pensa: "a TV fornece substrato para que o possível constrangimento provocado pelo silêncio entre um assunto e outro não possa se instalar". Mas... por que sentir constrangimento na presença do silêncio? Será que expõe nossa falta de habilidade em manter intimidade com os outros? Seria a ideia de que temos dever de dar plena atenção, sem nenhum descanso, às nossas visitas? Nesse caso, a TV, com sua descarga incansável de informação, faria as vezes de um visitante ativo. Um visitante opressivo, autoritário, dominador, que impõe sua própria pauta de conversação, alheio e indiferente aos outros presentes. Quem sabe se... Mas não chega a conclusão alguma e desiste de pensar na TV.
Entra em seu quarto e fecha a porta. Decide que na próxima vez em que receber uma visita deixará um livro aberto entre ambos. De preferência sem som e imagem. Apenas palavras. Palavras silenciosas que só têm voz dentro da mente.
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