Total de visualizações de página

sexta-feira, 10 de maio de 2013


Franca Dualidade


Durante várias noites foi possível ver uma luz acesa na casa, usando meu ponto de vista, aposto que era ele acordado. Percebi com o tempo que não tinha um cômodo favorito, poderia ser a sala, a cozinha, o quarto, mas sempre com a luz acesa. Nas manhãs, sempre a mesma rotina, o cheiro do café, o tilintar dos copos se batendo enquanto ele lava a louça e o cheiro de arroz queimando. Engraçado como ele sempre teve esse defeito e eu sempre sorria, pois era parecido comigo. Sempre fomos bem parecidos e conseguíamos manter conversas por horas, mesmo quando  ficávamos calados.

Mais acaba, simples assim. O cansaço vence, o desejo do desejo vence, a mesmice perde, o amor, se ele existe, perde. Afinal, como ele poderia ter tanta certeza de que eu o pertencia e eu certeza que pertencia a ele, mesmo sabendo que existem tantas pessoas no munto que poderiam ser mais ideais pra essa situação? Pessoas que não precisam ser idealizadas.

No final não havia cômodo favorito, mas havia uma rotina, o caminho era banheiro, sala, cozinha, quarto e nessa mesma ordem as luzes foram se apagando.

***

Odeio essa rotina de luzes acesas em cômodos. Odeio saber que mesmo com tantas pessoas no mundo, ele encontrou alguém ideal e esse não sou eu. O cheiro do café quase queimado, o irritante tilintar de copos, a barba que raspa em  meu rosto, o desespero do arroz queimado, já foi engraçado, mas foi-se o tempo. Francamente, odeio apagar as luzes e continuar acordado.

***


"No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas que o vento não conseguiu levar: um estribilho antigo, um carinho no momento preciso , o folhear de um livro de poemas, o cheiro que tinha um dia o próprio vento..." 
- Mario Quintana 

Nenhum comentário: