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sábado, 23 de fevereiro de 2013

Pedrada




em tempo de dura andança
(povoado de inimigos
armados de ilusões)

é pedra a flor na estrada
(cercada de cemitérios
onde cruzes são cifrões)

é pedra feita palavra
(quase sempre sepultura
do trabalho apodrecido)

palavra filha do gesto
(para os velhos: indigesto)

leve e puro do menino
(flor sa(n)grando rebeldia:
clara semente da aurora)

quebrando o negro cristal
(estrela velha, caída
na noite da mais-valia)

estrilhaçando a vidraça
(redoma, muro, prisão:
precipício, solidão)

em tempo de dura andança
(a liberdade germina
no seio de falsos natais)

a pedra, a flor, a palavra
o gesto, o dia, a estrada
brotam
das mão do menino:
estrelas de sangue, esperma e argamassa
sóis de fúria e pranto e alegria
iluminando
o novo horizonte: claro e verdadeiro
como o azul que nasce do ventre da manhã





Mário Jorge - Poesia que liberta


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