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quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Direi?


Se te direi?


se te direi da altura
de que me lanças na chegada,
da cavalgada, dos porventuras, das embriagadas
noites de silêncio riso, ternura
a caber dentro de edifícios?
se te direi dos côncavos, das curvas
dos lábios, coxas e bundas, douradas
silhuetas na cama escura, cintilante
soar de trompetes, e fundas
olheiras de amantes pós chama apagada?
se te direi das escadas instantes
antes de tua porta fechada, das surras,
da água suja do pó da estrada quando
retornas, e sorves e sorves e sorves
e não tomas nada? se te direi do que sei
da roupa amassada, anel de brilhantes
que não ganhei, dos porres em que desemparada
me atirei - enquanto sussurras "não dói nada"
"não dói nada"? se te direi do frio que percorre
e resulta hesitante, dos 'por quês, aonde,
como, quando' que me fiz só a mim, suspirante
e das ausências que me dei durante
anos e anos em que fui feliz num país
sem lar sem ler sem lei? se te direi?
se te direi, sinceramente, eu não sei.



Priscila Lopes

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