Total de visualizações de página

domingo, 9 de setembro de 2012

Ain’t no sunshine when she’s gone...


Nas veias corre água sanitária no lugar de sangue. Esta, eficiente e barata, desbotou pele, roupa, sentimentos e pensamentos. Desbotou o presente. Preservou as cores do passado, mas deixou transparente o futuro – é algo invisível à percepção...

...invisível para expectativas.

Maldita água sanitária.

Desbotara a roupa mais querida do meu armário. Colorida, nostálgica, rotineira, para o dia e para a noite, sempre cheirosa e sempre em acalantos e carinhos. Quão especial essa roupa fora, um dia! Deu-me tantas alegrias, tantos frutos... Ouço suspiros e digo: lamento, esta roupa já não me serve mais... além do quê, está apertada para o futuro. Mas lamentavelmente não tenho coragem de me desapegar – a guardo sem coragem de admitir... A guardo fingindo ser nova, pronta para qualquer ocasião. Ainda a visto, mas ela não me deixa mais como antes. É até engraçado dizer que o carinho por ela não mudou... Mas ela desbotara. Se eu encontrasse um corante da cor dela... Ficaria como novinha. Mas ainda não achei. Ela desbotara. Sinto-me nua...

O tempo muda, e com ele todas as coisas vividas. Ain’t no sunshine when she’s gone...

Nenhum comentário: